Ah!!!!!!- gritei por dentro
-Hora de você ir. Completar o seu destino. Se afastar destes humanos.
-O que?! Como assim? Eu nem me despedi!
-Viu? Eles estão te tornando humana de mais!- disse ele sentando-se novamente na pedra
-Humana de mais? Me diga... o que é ser humana de mais?- perguntei sentando-me ao lado dele na pedra, eu realmente não sabia.
-O que?- ele riu -Tá brincando não é?
-Não...- disse olhando o reflexo da lua no lago ele tirou o sorriso do rosto
-Bem.... hãm... você sabe! Pecados... como gula... luxúria... vaidade...
-Eu não tenho isso...
-Mas... hãm... você tem certeza? Por que até certa... hãm... idade, os anjos não podem ter certos... hãm... bem... sentimentos...- a voz dele fracassou, ele realmente aparentava estar embolado
-Sentimentos são proibidos?!- quase gritei, ele levou um susto
-Não! Não todos!
-Então quais?- perguntei o olhando fixamente, ele enrubesceu e desviou para o lago
-Hãm... inveja, ciúme... e... sei lá... paixão, amora...
-Quer dizer amor?
-Hãm... o que? Ah! Sim, é! Amor não amora! É que estou com fome sabe?- disse ele rindo, eu não caí nessa
-Tá, quando eu vou pra casa?- perguntei esperando ter alguma brecha
-Elianna... é isso que estou tentando explicar, mas é mais difícil do que parece conversar com você...- eu me apavorei, ele não poderia falar aquilo que ele ia falar não é? -... você não vai voltar pra casa.
Ele falou! Aquele idiota falou!! Talvez eu estivesse realmente muito humana pois o que eu sentia naquela hora era 100% ira!! Ai que vontade de apertar o pescoço dele até ele não respirar mais!!
Ahhhhh!!!!!!- gritei por dentro
Eu me levantei e fui em direção a floresta. Ele me seguiu me chamando.
-Mas onde você vai?- insistiu ele puxando o meu braço
-Se vamos passar a noite aqui eu não vou morrer de fome! Eu vou procurar alguma fruta e você faz uma fogueira.
-Não precisamos.
-Por que?
-A luz da lua nos dá a força que precisamos.
-Algo comestível?- perguntei ainda com raiva
-Não...
-Então tchau!- disse e depois me virei e fui floresta a dentro
Como muitos imaginaram, não, eu não fui buscar comida. Eu fui jogar a minha raiva fora passando um tempo com a natureza. Depois sim que eu procurei frutas e voltei com os braços cheios de laranjas e maçãs de uma fazenda a meia hora dali.
Não conversei com ele. Não queria ficar com raiva a ponto de quase arrancar as asas dele de novo. Mas, de qualquer maneira, depois de duas horas ele começou a falar sem parar e me fazia perguntas em relação aos meus pais. Eu só respondia com sim ou não, ou simples acenos de cabeça
Uma coisa que todos tem que saber sobre mim é que sou a garota mais teimosa que vocês poderão ter a chance de conhecer. Ele aprendeu isso rapidinho e se calou.
Mas como sempre, eu estava errada. Era melhor quando ele falava. Agora até o barulho das corujas me matava de medo. Ele percebeu isso rapidinho.
-Tudo bem?- perguntou ele
Olha é sério, eu tava loca pra responder: “Tirando o fato de você estar me sequestrando tá tudo ótimo!”, mas eu não disse isso, só olhei para ele com olhos tristes. Ele estava sentado ao meu lado e me abraçou.
Eu comecei a chorar.
Não por ele.
Não pela coruja.
Não por mim.
Mas pelos meus pais.
-O que eles vão fazer se os acusarem?!- perguntei a ele enquanto ainda chorava
-Eu não sei...
-Nós podemos salvá-los? Você sabe... da fogueira?
-Me desculpe, mas não. Nós não podemos fazer nada... a não ser esperar.- eu chorei mais e ele me abraçou com mais força (e nossa! Que abraço!) –Você está melhor?- perguntou quando parei de chorar e nós nos afastamos
-Não... eles eram as únicas pessoas no mundo que se importavam comigo de verdade... e agora... eu os abandono...- disse sentando-me á relva fria
-Não é verdade Eli...- disse ele sentando-se ao meu lado
-Eles me chamavam assim...
-Me desculpe, se quiser não te cha...
-Não!!- cortei –Me ajuda a me lembrar deles...